Arborização Urbana e Cidadania

Por Alcione Cavalcante. Engenheiro Florestal formado pela Universidade Federal do Paraná

O Estado do Amapá conta hoje com aproximadamente 670 mil habitantes, dos quais 600,5 mil em áreas urbanas, concentrados em maior escala em Macapá e Santana, correspondendo a quase 90% da população, marca que o coloca, proporcionalmente entre os mais urbanizados da Federação.

O posicionamento de Macapá nos confere algumas singularidades, como por exemplo, ser a única capital brasileira banhada pelo Rio Amazonas, e de igual modo ser uma das poucas cidades a ter a linha do Equador cortando seus domínios. Tal quadro se nos proporciona usufruir das belezas, outros serviços e bens do majestoso rio, ao mesmo tempo, em função dessa localização, impõe o clima tropical úmido, caracterizado por apresentar uma estação chuvosa e um período seco bem definido, que no geral ocorre no segundo semestre do ano. Por conta dessa condição, Macapá apresenta temperatura máxima chegando próximo aos 37° C nos meses mais quentes, colocando-nos vez por outra na condição de cidade mais quente do País.

Aliada à condição climática, a já citada concentração urbana, também exerce papel fundamental na composição do gradiente. Como sabemos quanto mais gente, mais asfalto, mais concreto, mais amianto, mais fumaça, fatores estes que contribuem cada um a seu modo, para a elevação da temperatura urbana. Incorpore-se a estas questões a falta de planejamento e ordenamento territorial urbano, e o resultado nos coloca muito aquém das recomendações da Organização Mundial de Saúde – OMS, quando o assunto é a relação m² de área verde/habitante.

Importância da Arborização Urbana

Diante desse quadro destaca-se a valor da arborização urbana. Além de contribuir para amenizar a sensação térmica, que é parte mais perceptível de sua importância, citamos também a contenção da erosão, a manutenção da umidade do ar, a redução da incidência direta da luz solar sobre os solos, o abrigo da fauna, em especial das aves que controlam a população de insetos urbanos. Aparto ainda sua função como escudo natural contra a poluição sonora, assim como barreira antipoluição atmosférica oriunda de chaminés e descargas oriundas de veículos automotores, fatores estes componentes do mapa urbano de Macapá e finalmente o mais famoso e importante, o processo fotossintético que absorve o CO2 da atmosfera e repõe oxigênio.

Fig. 01 – Claudomiro de Moraes

A Influência da Arborização sobre a Temperatura Urbana.

No caso de Macapá, não há estudos que sinalizem com precisão este papel.  Nacionalmente diversas instituições e pesquisadores se debruçam sobre o tema, gerando informações interessantes. Por exemplo, citamos o caso da cidade de São Paulo, onde ocorrem diferenças de até 10 ° C, no mesmo horário, entre padrões de arborização diferenciados, ou seja, entre espaços urbanos arborizados e aqueles onde a arborização é deficiente ou inexistente. No caso de Macapá essa diferença torna-se mais significativa, pois o desconforto térmico atinge de forma mais incisiva as parcelas da população menos favorecida.

A Falta de Árvores que Dói no Bolso do Cidadão

Os elevados índices térmicos estão sendo “corrigidos” através do uso de aparelhos e centrais de ar condicionado, que por sua vez consomem mais energia, remetendo ao uso mais intensivo dos recursos naturais e potencializando impactos negativos sobre o meio ambiente. Temos ainda o mais imediato dos prejuízos, no caso o que ocorre diretamente sobre o bolso e a saúde do cidadão.

Fig. 02 – Marabaixo

O Plano Diretor de Macapá, Casos Exitosos e Bons Exemplos

Não por acaso a situação da arborização urbana e de áreas verdes de Macapá é insatisfatória. Uma rápida consulta ao Plano Diretor de Macapá confirma que os termos arborização e verde são citados uma única vez (Art. 56 e art.10) no citado instrumento de politica pública do Município. Entretanto há casos exitosos recentes, dos quais podemos citar a arborização conduzida em 2006 no Bairro Marabaixo I e o plantio de mudas em parte do canteiro central da Av. Claudomiro de Moraes, que receberam forte apoio de parte da comunidade e hoje fazem parte da paisagem urbana de Macapá.

Fig. 03 – Curitiba Jardim Botânico

Bons exemplos devem ser considerados, nesse caso convém destacar que algumas cidades já perceberam significância à arborização e áreas verdes, para a qualidade de vida dos cidadãos, como caso de Curitiba, no sul, Goiânia no centro-oeste e João Pessoa no nordeste, para ficar apenas nos exemplos mais conhecidos.

Fig. 04 – Curitiba Parque Tanguá

  • Excelente texto.
    Já plantei um pé de cácia rosa em frente a minha csa. E tenho alguns pés de árvores frutífera no quintal.
    Também já plantei mudas na praça chico noé que, apesar do esforço, não vingaram.
    Para uma cidade em plena linha do Equador é absurso não haver uma política séria de arborização. Amenizaria consideravelmente o clima da cidade.
    Pena também que o Município não reserve áreas nos bairros para parques e bosques, como em Curitiba. Nem o Zoobotânico conseguimos reabrir. Parte da área do exército, no Alvorada, seria outro bom espaço de lazer e mei-ambiente.
    Falta gerenciamento efetivo do município sobre o assunto, efetuando as tratativas necessárias.

  • Esses engenheiros florestais gostam mesmo é de sombra e água fresca. Parabéns pelo artigo, Alcione!

  • Pois é,estamos no meio do mundo,em plena Amazônia,onde o verde deveria predominar tb nas áreas urbanas, e é oque não se vê nesta Macapá.Lamentável que soframos com o descaso de nossos governantes quanto ao plantio de árvores.Manter as que já existem é uma calamidade,alvará plantá-las.A PMM e outros orgãos(bombeiros,SEMA,etc.) responsáveis por tal arborização deveriam pelo menos não criar entraves aos cidadãos e cidadãs que querem cuidar das árvores, em seus quintais e frente de suas casas.Em frente de minha casa na Raimundo Alvares,plantaram(não fui eu quem plantou)uma mangueira que me dá mais prejuizo(quebra telhas,suja d+ e causa circuito ao encostar nos fios de alta tensão) dq me serve de abrigo do sol.Já solicitei aos orgãos competentes a poda da mesma,ou mesmo,licença p/fazer a dita poda,mas nada.Nem eles mandam podar e nem autorizam tal procedimento,isto é UO.Se resolver fazer isto sem a dita autorização, é rápido que aparece logo alguém p/multar.Isto eles fazem que é uma blz.

    • Carla,
      O Corpo de Bombeiros Militar do Amapá não tem atribuição alguma referente a arborização da cidade. O que a instituição realiza é o atendimento de ocorrências onde há quedas de árvores ou risco grave e iminente disto acontecer.
      O problema é que a Prefeitura Municipal de Macapá -PMM, não possui, e nem se esforça para possuir, equipes que cumpram com a responsabilidade do município em realizar podas e eliminação de árvores que estejam doentes ou necessitando de algum tipo de tratamento. Por conta disso, o CBMAP se vê obrigado a realizar um serviço que não é de sua responsabilidade e que, diga-se de passagem, ocasiona descontentamento de seus militares e gastos com aquisição de equipamentos e combustível.

    • Parabéns pelo artigo Alcione.
      Realmente é um absurdo estarmos em plena floresta Amazônica e vivermos em uma cidade onde não há arborização e o poder público ainda constrói na cidade praças sem nenhum critério paisagístico de arborização, as “famigeradas” arenas esportivas que só provocam dor de cabeça aos moradores vizinhos, fomentam a violência e geram ilhas de calor dentro da cidade.

  • Excelente texto Alcione, outro aspecto a ser considerado na arborização urbana e a escolha de especies adequadas para não causar transtornos a população e sim beneficios ambientais. parabens pela explanação.Mario

  • Arborização é uma ação tão rara, algo tão incmum por esses lados tucuju, que quando isso ocorre vira festa na floresta. Menos mal,afinal verde é verde e ele será sempre bem vindo em qualquer ocasião tal vem acontecendo na zona norte onde as ruas de um bairro recebem mudas de ipês por iniciativa conjunta do MP e PMM. Afinal,não é só a sombra que nos abriga e protege do sol inclemente e do ventinho que sopra aprazivel sobre a gente. O verde confere tambem beleza as cidades e reveste-se em elemnto indispensável a qualidade de vida das pesoas. Lamento o fato dos prefeitos de Macapa andarem historicamente na contra mão desse imperativo urbano, na verdade um grave equivoco,uma dupla negação a nossa condição amozonida e sob os efeitos da região mais quente do planeta. Ou será isso uma demonstração pública de insensibilidade e de falta de educação ambiental. Engraçado que essa gente vive zanzando pelas cidades lindas,exuberantes de verde com a impressão que não enxergam. Uma pena! Parabens ao Alcione pela qualidade do texto e importancia do tema, uma cartilha educativa muitíssima apropriada ao prefeito da capital.

  • realmente, quando vamos ter um projeto de arborização decente para macapá? entra prefeito sai prefeito e nada, estive em minha cidade natal ano passado, e tive um enorme prazer em andar em ruas em que as arvores faziam um verdadeiro tunel, uma coisa muito bonita, duas horas da tarde e a calçada totalmente sombreada, quem sabe um dia tenhamos isso aqui em macapa,

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