Amor, Poesia e Preconceito. Uma crônica do eterno Hélio Pennafort

“AMOR, POESIA E PRECONCEITO” Texto de Hélio Pennafort – Publicado em “Micro Reportagem”, DIO/GTFA, Macapá, 1980.

“Querida Noca

Escrevo-te somente esta porque não aguento mais a cuíra de saber de nossas difíceis notícias, Noca.

Domingo, no ucuubal, como eu te mandei dizer, não deixa de falar comigo, porque eu quero falar contigo, Noca.

Eu gosto do teu amor, da tua paixão, dos teus carinhos, tão bem como o buritizeiro que adora a mãe lua, quando ela tange com o seu clarão as nuvens que não querem deixar o seu luar tocar os brotos das palmeiras, mexer com o siriubal ou alegrar o furo do Jenipapo.

Ainda me lembro, Noca, da primeira vez que te vi na reza da casa do tio Macário. Enxerguei teus cabelos, Noca, clareados pela lamparina, mais bonito do que as espigas de milho da roça do Zé Manduca. Teus olhinhos, Noca, eram uma graça… Brilhavam mais do que duas porongas de pesqueira, na noite escura, chuventa e panema de peixe…

Tudo em ti é belo, linda Noca, por isto eu gosto de ti. E tu também gosta de mim? Quando já… Eu não sou suficiente nem tenho competência para possuir o amor da garota mais faceira que existe em toda a extensão do Cassiporé. Mas espero um dia ao menos poder te tocar, te acariciar, te cheirar, te beijar… Noca”.

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